Faz um tempo que a moda verde deixou de ser restrita a tecidos feitos a partir de garrafas PET, algodão orgânico ou fibra de bambu. Novas formas de pensar a fabricação de estampas e jeans são um bom exemplo. O tingimento natural, adotado pela Osklen em sua última coleção, lançada na São Paulo Fashion Week, também.
Na mesma direção, as roupas de banho da marca Movimento reaproveitaram pele de peixe, e as pulseiras da estilista Andrea Marques são feitas com madeira de demolição.
Saindo da área de materiais e técnicas utilizadas para conferir quem está trabalhando na máquina de costura, a ideia de pagar um preço justo a toda a cadeia envolvida na produção, poluir menos e cuidar do bem-estar dos trabalhadores se fixa em um mercado que só cresce. No Brasil, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) estima que o faturamento do setor no ano passado alcançou a marca de US$ 47 bilhões.
A conscientização de varejo e consumidores ajuda a firmar o algodão orgânico e o tecido de PET, mesmo sendo conceitos mais banalizados, como referências de menor impacto. Com isso, camisetas de algodão orgânico começam a chegar em grandes lojas de departamento no Brasil a preços mais acessíveis.
A criatividade e a inovação comuns ao brasileiro podem ser grandes aliadas para transformar o mercado da moda, conhecido por seu estímulo ao consumo desenfreado e pelo caráter descartável, em um adepto da sobrevida e da transformação.
Dar nova vida a algo que estava próximo do fim sem passar por processos químicos e físicos de reciclagem. É mais ou menos isso que o upcycle, conceito do momento na Europa, prega. Na moda do futuro, o artesanato, a customização e a individualidade no jeito de vestir podem ser grandes saídas.
Menos água nas estampasFazer estamparia exige muita água nos métodos tradicionais. Com a técnica da Air Dye, as cores são transferidas para o tecido por meio do calor, o que pode economizar entre sete e 75 galões de água em cada quilo de tecido. Outra tecnologia é a impressão digital, usada pela estilista Isabela Dreux na última edição do Fashion Rio, semana de moda do Rio de Janeiro. Com impressoras que aplicam as estampas direto nos tecidos, o consumo de água é reduzido em até 95%.
A força dos retalhos
Os pedaços de tecido que sobram nas máquinas de costura não vão mais para a lixeira. As roupas masculinas lançadas pelo estilista Alexandre Herchcovitch na São Paulo Fashion Week são de tecido reciclado feito de retalhos de várias indústrias.Também nesse sentido, a marca masculina Spirito Santo aposta nas bolsas feitas com sobras de jeans. Assim, caminha ao lado da palavra de ordem dos inglesesfocados no comércio justo, o upcycle. O nome estranho nada mais é que transformar, sem processo químico, algo que estava no fim da sua vida útil.
O novo jeans
A movimentação em busca da redução do consumo de água é um dos motivos que levou a marca Denovo a alterar sua produção. Um modelo feito a partir de retalhos de outros jeans e um outro que exige um número menor de lavagens industriais servem como exemplo. Já a Tristar promete um jeans que não precisa ser lavado depois do uso. Para limpar, é só colocá-lo no congelador por 12 horas dentro de um sacoplástico fechado.
De Fortaleza para Londres
Uma parceria entre a Dragão Fashion Brasil, evento de moda de Fortaleza (CE), deve proporcionar intercâmbio de ideias, peças de roupa e ações entre Brasil e Inglaterra.A ideia do coordenador internacional do evento, Mauro Slomp, é unificar a linguagemda ecomoda e reforçar os conceitos de upcycling por aqui. A conexão ocorrerá entrea Estethica, salão de moda ética da semana de Londres, e designers brasileiros, quedevem ser recebidos na Inglaterra em fevereiro do ano que vem. Na edição daDragão Fashion de abril de 2011, criadores da Estethica apresentarão suas ideias emFortaleza, completando o ciclo de troca verde e ética. O projeto conta com o apoio dajornalista referência em moda, Suzy Menkes, do jornal Herald Tribune.
O preço justo
Conceito amplamente difundido na Europa, o comércio justo é aquele que considera importante todos os envolvidos no processo de fabricação, transporte e venda de uma peça de roupa. Ele vai contra a ideia de produzir onde a mão-de-obra é mais barata, sem considerar os impactos socioambientais. Embora o conceito não seja tão difundidoaqui, o apoio de grandes marcas brasileiras a pequenas comunidades tem feito do artesanato um artigo de luxo. Com treinamento específico, artesãs adicionam valor a seus produtos, levando-os até as passarelas. Na última São Paulo Fashion Week, maior semana de moda do país, Ronaldo Fraga, Movimento e Iódice aproximaram-se de comunidades, dando o pontapé inicial para o comércio justo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário